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quinta-feira, 15 de novembro de 2018
E OS CUBANOS SAINDO DO MAIS MÉDICOS?
No início do programa, escrevi aqui sobre a "recepção" de grande maioria dos médicos brasileiros aos colegas cubanos. Foi triste. Agora, os cubanos deixam o programa. Quem perde? Afora ideologias políticas, afora loucura de direita e esquerda, eleitores de Bolsonaro, Haddad, Ciro, Marina, Amoêdo, quem perde são os mais pobres, os sertanejos, os ribeirinhos, os provincianos, os interioranos, as pessoas que moram nas cidades longínquas, no interior do interior, no Brasil profundo.
E um presidente eleito que recebe auxílio moradia tendo casa, que é deputado há não sei quantos anos e dispara contra minorias, diz que pobre não serve para nada, definitivamente não vai pensar nos mais necessitados. O presidente eleito não sabe o que é uma zona rural do semiárido, não sabe o que é uma cidade do interior do nordeste de 3.000 habitantes, não sabe o que é sofrer sem assistência em saúde.
Há sim, a precarização do trabalho pelos municípios, a falta de um plano de carreira sólido para os trabalhadores, eu disse para os trabalhadores, sobretudo os que cumprem horário, inclusive para todos os níveis de profissionais, em todos os níveis falta isso, não só médico, mas o que há, também, é o elitismo e a supremacia de uma classe, ou de grande parte dela, numa sociedade consumista e capitalista. Os médicos estão no topo da pirâmide social e não vão sair dela. Um médico ou a maioria deles, não quer morar numa cidade pequena do interior, nem pelo maior salário oferecido. Isso também é verdade.
Achei uma afronta o "teste de capacidade" que iria ser imposto por Bolsonaro. Ora, a medicina cubana é uma das melhores do mundo, mesmo que um rico direitista surte, isso também é verdade, sobretudo no caráter preventivo, na atenção básica, onde a medicina cubana atuou aqui no Brasil. Teste de capacidade para os médicos de Cuba? Como diria Chico César: "é a cigana analfabeta lendo a mão de Paulo Freire". Por que não faz um teste de capacidade para a galerinha que compra gabarito e diploma nas "uniesquinas" e até nas universidades públicas? Em todos os cursos. Ah, sei... são filhos de ricos.
Enviar dinheiro demasiado para o governo cubano, também acho erro. Que poderia ser contornado em detrimento da necessidade dos brasileiros carentes.
No fim disso tudo, Raimundos, Antônios, Manoéis, Franciscas, Marias, Cíceros, Severinas, vão perder e muito. O Brasil atual não pensa em seu povo, vive uma guerra ideológica-partidária vazia ou cheia de interesses egoístas, enquanto os mais pobres padecem. Tristeza total.
Trabalho no sistema de saúde brasileiro há 5 anos, trabalhei com mais de um cubano nesse tempo todo. Vivi e vi toda a realidade. É LAMENTÁVEL A AUSÊNCIA DELES. O Brasil perde profissionais diferenciados, sobretudo na humanização. Eu estou pensando nos mais pobres. Há verdades independentes de quem foi sua opção eleitoral, pensem nelas.
Manoel Cavalcante
Cirurgião-dentista graduado pela UFRN
Especialista em Saúde da Família
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