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quarta-feira, 22 de abril de 2015

BUROCRACIA: Casa do Estudante está abandonada

* Tribuna do Norte
Fotos: Ana Silva

Falta manutenção e até comida.  Na despensa, apenas sal, colorau e muita poeira.  As Casas do Estudante estão há quatro meses sem receber qualquer repasse do Governo do Estado. As razões são burocráticas: o descumprimento de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado em 2009. Dentre as obrigações das casas, estão a reformulação do estatuto e a prestação de uma série de informações à Secretaria de Estado do Trabalho e da Habitação (Sethas), para que a pasta dê continuidade à licitação para compra de insumos.
Atualmente, são duas Casas em Natal, duas em Caicó e uma em Mossoró. A unidade masculina da capital potiguar, situada à Rua Coronel Lins Caldas, Cidade Alta, que tem cerca de 80 moradores, parece ser a pior - a que está em situação mais degradante. O prédio, que é tombado, mostra sinais de abandono, externamente, e internamente, em cada compartimento o estado é de completa desolação e penúria.

Pelo estatuto, cada morador dá uma contribuição de R$ 25 por mês. Normalmente, esse dinheiro é dividido entre os que ajudam na cozinha, limpeza e administração da casa. Em geral, ex-moradores. Mas, de acordo com o estudante Washington Luiz, a arrecadação deixou de ser feita, com o fim do repasse do Governo. Assim, até mesmo essas pessoas que auxiliavam nos serviços pararam de ir à casa.

Washington é de Caicó, estuda Comércio Exterior no IFRN e mora no espaço de assistência social há três anos. “O último repasse foi em novembro”, lembra, mostrando a antiga câmara fria, vazia e mal cheirosa. 

“Cada um ajuda o outro. Um dia um compra o arroz, no outro o feijão. E assim vai”, conta.

O mofo se espalha por paredes e teto. Pedaços do gesso já caíram. As infiltrações são incontáveis. Dos 50 quartos, cerca de 30 são abertos. O piso da grande sala de estudo está molhado ainda pela última chuva, dias antes da visita da equipe de reportagem da TRIBUNA DO NORTE. 

Na lousa branca, um recado, em tom de pedido ou conselho a quem resiste às condições: “Continue tentando, pois no final sempre tem uma saída”.

Ao lado, os cômodos onde funcionavam cinemateca e biblioteca estão vazios. Poucos móveis ainda restam dispostos pela casa. O estudante Washington Luiz, diz que as mesas de estudo estão trancadas em um quarto. Caso contrário, se acabariam pela água, como tantas outras, ou seriam roubadas. A insegurança também é ponto crítico. “Só neste ano foram quatro arrastões, além dos pequenos roubos em volta”, conta Washington.  Para evitar que isso volte a acontecer, cada um tirou cópia das chaves dos portões, agora sempre fechados. Na frente, a quadra de esportes, está sendo reformada pela Prefeitura. Mas quando aberta, quase não era usada pelos moradores. A esperança é que o Governo do Estado regularize os repasses.

Casa da Estudante 

Em Natal, a Casa feminina, na Rua Junqueira Aires, também na Cidade Alta, está melhor conservada. As moças contam que fazem mutirão para faxina a cada 15 dias. Mas também não tem comida. A Cosern mandou aviso de corte de energia elétrica. E há três meses falta gás. 

“Minha mãe manda alguma coisa quando arranja uma carona”, conta Zênia dos Impossíveis, falando da dificuldade por causa da distância de aproximadamente 400 quilômetros entre Natal e Messias Targino, onde vive sua família. Em seu quarto, mostra o fogão, doado por uma associação de seu município. Alguns também possuem geladeira. “Cada uma se vira como pode”, afirma a estudante. 

O quarto com beliche sem colchões, uma rede, ventilador, mesa, cadeira e livros é a casa de Thalis Murilo. É onde ele vive há um ano e quatro meses, desde quando resolveu morar em Natal e concluir o Ensino Médio. Agora faz cursinho para provas militares. “Um amigo deixou pra mim. É maravilhoso isso aqui”, diz, contentando-se com a extensa mesa.  

“Vivemos aqui [na Casa] com muita dificuldade. O custo de vida em Natal é muito alto. Sem ajuda, os sócios precisam arranjar emprego, trabalhar e estudar”, diz o jovem, agradecendo por sua família poder lhe ajudar. “Mas falo pelos outros também. Tem gente que não precisa mesmo trabalhar”, comenta.

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