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segunda-feira, 13 de outubro de 2014

POSSÍVEL SALVAÇÃO DO SERTÃO

Em meio à seca que se agrava e causa sérios problemas não só para 198 municípios da Paraíba, mas também para várias áreas do Nordeste e até mesmo para a cidade de São Paulo, os projetos de dessalinização de água extraída de poços ou do mar aparecem como alternativas viáveis e baratas que podem pôr fim a esse problema.

Quem explica a ideia é o coordenador do Laboratório de Referência em Dessalinização (Labdes) da Universidade Federal de Campina Grande, Kepler Borges Franca. Doutor em Engenharia Química com formação na Inglaterra, ele está há cerca de 30 anos desenvolvendo estudos nessa área. Segundo Kepler, extrair o sal da água do mar em uma região litorânea, como a da Paraíba que tem cerca de dez cidades, desafogaria o sistema de abastecimento em parte do interior do estado.

A água é retirada do mar por meio de bombas; passa por tubos até o reservatório de dessalinização, onde é filtrada em membranas poliméricas, feitas com material orgânico e resistentes à alta pressão; e chega tratada até outro reservatório.

Como exemplo de utilização dessa prática, Kepler cita a ilha de Fernando de Noronha. Localizado na costa Norte do Brasil, próximo do Rio Grande do Norte, mas sob o Governo de Pernambuco, o local com cerca de 3 mil habitantes é o único no país totalmente abastecido com água dessalinizada e retirada do mar, segundo fala o doutor.

“Extrair a água do mar para distribuição nas cidades próximas do litoral desafogaria em cerca de 30% o sistema de abastecimento em outros municípios mais distantes da costa. Em Fernando de Noronha a ideia é muito bem sucedida. Na Paraíba, a proposta ainda se restringe à utilização em poços, presentes em centenas de cidades do estado”, ressalta.

Sobre os custos, Kepler disse que a água dessalinizada pode ficar entre R$ 1 e R$ 2 o metro cúbico, valor que aumenta um pouco quando acrescido de manutenção e pagamento de funcionários, por exemplo. Para a instalação da usina, o doutor fala que tudo depende da demanda.

A respeito da pureza da água extraída do mar, principalmente quando há relatórios semanais da Sudema indicando poluição em algumas praias do estado, Képler garante que o sistema de purificação por membrana é altamente eficiente e não só retira o sal, como também todos os microorganismos nocivos.

O coordenador do Labdes lembra que a dessalinização da água vem sendo utilizada no exterior, como em cidades dos Estados Unidos e na Venezuela, onde uma usina para essa finalidade está sendo construída para fornecer 200 mil litros de água por segundo, a 550 km da capital Caracas.

No Nordeste, ele diz que há 1.860 sistemas de dessalinização instalados. Além de fornecer água portável para consumo, a ferramenta pode melhorar a economia local, com agricultura e irrigação. A ideia também é levada para comunidades distantes, como na região Norte, onde o Amapá já tem populações beneficiadas com a purificação de água por membranas poliméricas.

Na comunidade rural de Uruçu, em São João do Cariri, a 216 km de João Pessoa, cerca de 600 pessoas são beneficiadas com um sistema de dessalinização para água extraída de poço. Segundo o doutor, a ideia é replicada na comunidade Santa Luzia, na cidade de Picuí, a 250 km da Capital, onde outras 1.100 pessoas também deve receber nos próximos meses água potável por meio desse método.

“Acredito nesse sistema como uma solução viável para o abastecimento de água no mundo. Além de ser barato, é bastante eficiente quanto à filtragem. Apesar dessa alternativa, é importante que as pessoas utilizem a água de forma consciente e que os gestores não deixem de lado as opções de desenvolvimento sustentável que protejam o planeta e garantam qualidade de vida”, finaliza Kepler.

Portal Correio

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