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domingo, 13 de outubro de 2013

CULTURA: DORIAN, 80 Anos

Em 24 de agosto de 2005, Mossoró perdia um dos seus melhores cronistas e um dos jornalistas mais bem informados destes lados: Dorian Jorge Freire, neto e filho de jornalista.

Com uma vida dedicada à literatura, principalmente à crônica de jornal, quando as crônicas não eram uma enxurrada de egos e vaidades, Dorian sempre nutriu forte apego à arte literária, trazendo para a sua coluna, neste jornal, algo diferente para os leitores, indo além da mera visão dos fatos, adentrando, criticando, sendo sutil e irônico, quando necessário.

Sua morte não deixou apenas uma vaga na Academia Mossoroense de Letras (AMOL), nem na Academia Norte-rio-grandense de Letras (ANRL), mas um vácuo naquele jornalismo produzido com a alma, sem essa coisa do que hoje chamam de lide, de escala da informação, e de tantos nomes que acabam por macular a boa informação, dada de forma descontraída, sem a burocracia dos horários dos eventos... Mas, diferente do que muitos pensavam, não haverá qualquer comemoração em Mossoró, a sua terra, em homenagem à memória de um grande autor. "Vivo fosse, seria um final de semana com a família reunida no casarão em volta dele na grande mesa. Infelizmente não tem mais casarão, nem mesa e nem a presença física dele", diz Dorian Filho.

Para Luís Fausto, também filho de Dorian, a cidade não valoriza a cultura. "Não estamos promovendo nada. Os livros ficarão com a família. Mossoró não valoriza cultura alguma", comenta.

Nada. Nenhuma manifestação, uma leitura dramática em praça, como fizeram no ano da morte do jornalista, nem anúncio ou retorno do Prêmio de Jornalismo Dorian Jorge Freire, que era promovido pela Prefeitura Municipal de Mossoró ou um recital de um de seus textos. Nada... O corredor cultural da cidade exibirá outras atrações.

Afora a memória curta, ainda sobram outras coisas, como a não identificação da estátua do jornalista, que está na Praça da Redenção Dorian Jorge Freire, em frente à Biblioteca Ney Pontes Duarte. Qualquer turista ou mesmo estudante que por ali passe, não saberá de quem se trata, por não ter identificação.

UMA VIDA DEDICADA À LITERATURA

Dorian Jorge Freire mantinha o hábito de ler diariamente, principalmente jornais de circulação nacional, além de boa literatura, o que se podia notar em sua coluna, publicada na última página deste caderno, até a sua morte.

Escritor, acima de tudo, de uma obra dispersa em jornais e revistas, Dorian, aos poucos, vai se apagando da memória de nossa imprensa, cada vez mais afeita à política e ao sangue, com raras exceções, nas quais podemos notar uma "reflexão aprofundada".

Tinha um estilo diferente. Uma página inteira de jornal se escrevia durante uma semana, com dois dedos e muita cultura, principalmente literária, coisa em falta em muitas cabecinhas de agora (mas Deus, um dia, olhará por nós e por todos. Amém!). Um jornalista sem leitura é como um corpo sem alma. Nem precisa dizer mais. Precisamos enterrá-lo, pois que sobre a terra e entre nós, este corpo exalará um péssimo odor.

Quando completou 57 anos de jornalismo, durante entrevista descontraída, pedia que escrevesse isso e aquilo: "Escreva: Ignácio de Loyola é meu amigo"... e, assim, sucessivamente. Depois de algumas perguntas e umas xícaras de café servidas por Silene, perguntei-lhe o que um bom jornalista devia saber fazer: "Deve dizer a verdade e saber escrever".

Também falou sobre as boas experiências, pausadamente, porque os sucessivos AVC"s deixaram sequelas na voz e em alguns dedos das duas mãos do jornalista. Pouco tempo depois, faleceria, em 25 de agosto daquele ano...

DORIAN JORGE FREIRE

Dorian Jorge Freire nasceu em Mossoró em 14 de outubro de 1934. Começou muito jovem na imprensa, no O Mossoroense, em 1948. De 1954 a 1961 foi repórter e colunista político da Última Hora, depois fundou e dirigiu, até o golpe de 64, o semanário Brasil, Urgente.

Esteve ao lado de grandes autores, como Caio Prado Júnior na Revista Brasiliense e Nelson Rodrigues, no Última Hora. Foi diretor do Diário de Natal, O Mossoroense e Tribuna do Norte.

Gazeta do Oeste
Mário Gerson

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