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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

SEM REMÉDIOS, endividado e sob ameaça

A ausência de mudanças no cenário da saúde pública estadual após a decretação do estado de calamidade pública na área fez as entidades do Fórum Estadual da Saúde decidirem retirar o apoio ao Governo do Estado. Agora, o setor de Politrauma do Pronto Socorro Clóvis Sarinho pode parar. Pelo menos é o que está sendo cogitado por médicos do Hospital Mosenhor Walfredo Gurgel (HWG), de acordo com Francisco Braga, vice-presidente do Conselho Regional de Medicina (Cremern) e plantonista da unidade de saúde. O motivo para a paralisação, que ainda será discutida entre os médicos que trabalham no setor, é a precária estrutura da unidade para atender os pacientes, gerados pela superlotação e o desabastecimento de medicamentos no HWG.

O setor de Politrauma é para onde a maioria das vítimas de acidentes em todo o Rio Grande do Norte são encaminhadas pelas ambulâncias de pronto-socorro, principalmente do serviço de atendimento móvel de urgência (Samu), sendo a principal porta de entrada dos pacientes no HWG. São pessoas que chegam com fraturas, traumatismos cranianos, cortes ou perfurações profundas, entre outros ferimentos sérios. Nessa seção do hospital, quatro médicos atendem por turno, sendo dois cirurgiões por operação médica. Segundo dados da assessoria de comunicação o hospital, entre os dias 5 e 12 deste mês (domingo a domingo) foram atendidos 1.063 pessoas no setor, uma média de 152 por dia.

A grande dificuldade, segundo Francisco Braga, está na superlotação do hospital, que gera alguns entraves no atendimento. "Muitas vezes os atendimentos são atrasados porque o setor de Politrauma está lotado com macas de pacientes internados oriundos de setores como Ortopedia ou Neurologia. Já houve casos em que se esperou entre seis a oito horas para entrar com paciente na sala de cirurgia porque não tinha leito para onde levar outra pessoa que já tinha sido operada. Como também já aconteceu de se esperar quase 24 horas para abrir vaga na UTI [Unidade de Terapia Intensiva]".

Francisco Braga afirma ainda que outro ponto bastante incômodo para os plantonistas do Politrauma é o do desabastecimento de medicação no HWG. "O que nos afeta mesmo é o problema dos anestésicos. O que tem chegado só atende a demanda de uma semana. Às vezes falta a raquianestesia (paralisação somente dos membros inferiores) e chegou a faltar propofol (anestesia geral). Essa desestrutura gera muita ansiedade e angústia entre nós, por não podermos realizar a contento nosso trabalho".

Segundo o vice-presidente do Cremern, a sugestão de paralisação do setor tem sido feita por entre os médicos via mensagens de celular. "Ainda não foi marcada uma reunião para definir essa questão, porém". Tereza Neuma, da Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap), alega não ter recebido qualquer informação sobre a possibilidade de paralisação e, por isso, prefere não comentar o assunto.

Temor
Uma possível paralisação no setor de Politrauma do HWG gera bastante temor no coordenador do Samu Natal, Rodrigo Azevedo. Isso porque, segundo ele, o setor é quem retém a maioria das macas utilizadas pelas ambulâncias do serviço e uma paralisação ou mesmo uma greve poderia ocasionar um colapso no atendimento de acidentados na capital potiguar.

Rodrigo Azevedo afirma que 60% das macas que ficam retidas no Walfredo Gurgel são aquelas encaminhadas para o Politrauma. Para ele, o problema maior acontece durante o final de semana, quando o volume de ocorrências e consequente acúmulo de ambulâncias do Samu na unidade médica aumenta bastante o lapso de tempo entre chegada e saída das macas. "O dia mais crítico é a segunda-feira, quando quase todas ficam presas por lá devido ao acumulado do final de semana e também porque é o dia em que mais registramos acidentes de moto". O coordenador teme que uma greve nesse setor possa fazer com que todas as macas fiquem retidas no hospital. "Poderemos até deixar de atender ocorrências, caso isso aconteça". 

Barriguda News
Via Diário de Natal/JPauloSousa

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